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Gamificação e treinamento remoto

O trabalho remoto é uma realidade da qual não conseguiremos mais voltar. Mesmo com algumas empresas começando a “trazer de volta” os funcionários para o ambiente de trabalho, para outras empresas que conseguem operar com funcionários à distância (seja por não quererem alugar sedes maiores ou para conseguir força de trabalho mais em conta, fora dos grandes centros urbanos) esse modelo já é adotado em definitivo.

Há duas grandes questões no trabalho remoto, frequentemente levantadas: a da criação da cultura corporativa e do engajamento em eventos, como hackatons, palestras, treinamentos e afins. No fim das contas, têm o mesmo objetivo: trazer as pessoas para a vida corporativa, mantendo-as em seus lugares de trabalho, à distância. 

É bom lembrar que este blogue já comentou do quão pouco eficazes são as apresentações, treinamentos e eventos de engajamento tradicionais e como modelos de gamificação ajudam a reter informações. Para equipes de trabalho remoto, isto fica ainda mais importante.

Há diversos exemplos de como uma rotina de gamificação pode reforçar a cultura corporativa, alguns já bastante usados em sistemas ágeis de trabalho de desenvolvimento de sistemas. Dois elementos, presentes no framework Scrum, são flexíveis o suficiente para serem aplicados em quase todos os setores corporativos de produção intelectual.

O Poker Planning é uma forma lúdica de se medir incertezas quanto a um trabalho. É da natureza do desenvolvimento de softwares, principalmente quando envolvem trabalho em sistemas antigos, desenvolvidos por outros times, um alto grau de incerteza por conta de funcionalidades não mapeadas, de sistemas que não foram suficientemente documentados ou simplesmente porque o time não sabe nem por onde começar (o que acontece muito).

A equipe se debruça em cima de uma funcionalidade ou parte de um projeto. A partir de um baralho que tem apenas números (em sequência Fibonacci) as pessoas votam em segredo o grau estimado de incerteza para execução da tarefa. Em seguida, todos revelam seu “voto” e discutem até chegar num consenso. Nessa discussão, as pessoas que têm mais certeza do que deve ser feito trocam informações com quem tem menos e todos desenham o melhor caminho para a execução do trabalho.

Mas como isso ajuda a reforçar a cultura corporativa? Bom, primeiro precisamos definir o que é cultura corporativa, né?

O que é cultura corporativa? Cultura corporativa, organizacional ou empresarial são os termos que definem o conjunto de hábitos e crenças firmados por meio de normas, valores, expectativas e atitudes compartilhados por todos os integrantes de uma empresa. Certo? Certo? Então…

A cultura corporativa é mais do que uma lista de normas, valores e atitudes. Apesar de importantes, não é isso que faz uma empresa desenvolver sua cultura. A empresa pode falar que é eco-sustentável e colocar lixeiras para separação e reciclagem de lixo do escritório, por exemplo. Mas se os funcionários não se engajarem, todo mundo irá colocar seu lixo na lixeira mais próxima, sem se preocupar com a natureza do lixo.

E como criar um engajamento usando o Poker Planning neste caso. Em primeiro lugar, fazer com que os funcionários participem da decisão de escolha da ação. Eles podem ser chamados no momento de escolha e votar no que seria mais fácil de implementar, no que daria mais resultado e no que seria mais funcional para o dia-a-dia.

Neste processo, talvez descobrissem que tirar os copos descartáveis e distribuir canecas ou garrafas fosse mais eficiente, mais prático e fácil. E reduziria parte do lixo!

Este processo poderia ser feito com um Poker Planning, mas também pode-se usar outro “jogo” que também é usado em processos ágeis. O método RICE (Reach — Alcance, Impact — Impact, Confidence — Confiança e Effort — Esforço) pede para que se coloque uma nota para cada um desses itens e, com isso, gere-se uma escala de resultados. Por exemplo, colocar lixeiras para coleta seletiva poderia ter os seguintes valores:

  • Reach: 3 (quantidade de pessoas que serão impactadas com o seu projeto)

  • Impact: 1 (como que cada pessoa será impactada com esse projeto)

  • Confidence: 2 (quão confiante você e sua equipe estão quanto a esse projeto)

  • Effort: 5 (considera o tempo, a dificuldade e o esforço colocados na realização desse projeto — maior é melhor!)

  • Resultado: 11 pontos

Mas, quando a ideia é levada para as pessoas um determinado andar daquela empresa, a coisa mude de figura. Após apresentar as ideias, cada pessoa que está participando da reunião vota e tira-se um consenso ou a moda das notas (explicando: consenso é quando há um debate e um valor consensual é escolhido; a moda é quando se conta a repetição dos valores e o que aparece mais é o valor definido) e este é o valor para cada um dos pontos do RICE. Quando apresentada a ideia de lixeiras para separação de lixo, os valores passaram a ser os seguintes:

  • Reach: 1 (quantidade de pessoas que serão impactadas com o seu projeto)

  • Impact: 1 (como que cada pessoa será impactada com esse projeto)

  • Confidence: 1 (quão confiante você e sua equipe estão quanto a esse projeto)

  • Effort: 5 (considera o tempo, a dificuldade e o esforço colocados na realização desse projeto — maior é melhor!)

  • Resultado: 8 pontos

Apesar dos dois processos serem “custosos”, a prática regular desses encontros, trazendo os funcionários nas decisões que irão impactar suas vidas diariamente, cria de fato a tal cultura corporativa.

Escolher um tipo de lixeira não atende ao trabalho remoto, obviamente, mas imaginemos outro exemplo. Uma empresa quer dar uma ajuda de custo para quem trabalha em casa. Afinal, a pessoa deixou de usar a energia, móveis, internet e até equipamentos da firma para assumir esses custos. Claro que há outras economias e vantagens para quem está em casa, mas isso não anula esses gastos. E há várias formas de se remunerar o funcionário. Pode ser um vale depositado direto na conta, com o salário ou um cartão “flex”, que pode ser usado como alimentação, combustível, refeições e afins. Em princípio, dá na mesma. Só que dinheiro na mão é vendaval e num cartão de benefícios tende a “voar menos”.

Implementar um sistema de votação online é bem fácil. Há diversos sites dedicados a isso e plataformas mais genéricas, como Miro, que incorporam essa funcionalidade em suas plataformas como default

Também podemos gamificar palestras ou treinamentos remotos, mas isso fica para outro post desse blogue!


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